Ele apareceu de carro vermelho. Coisa ainda mais rara: em duas sinalizadas minhas, lá estava o carro vermelho encostando. Antes de eu abaixar a cabeça e falar para onde iria, cumprimentei o cara com um beleza. Ele falou, entra aí. Pra onde cê vai, me perguntou. Pra praça de serviços. Ok.
Uma garota aprontava-se para entrar no carro conosco, quando ele disse que não cabia. O banco da frente é difícil de descer, só cabe um, infelizmente, emendou.
É, esse carro é verde. Nada a ver. |
Pelo caminho de pedras entre a Faculdade de Educação Física e Terapia Ocupacional, em que os carros mal passam e se ouve mal quem fala enquanto guia o volante, foi que o Elivelton passou os pneus e também a contar a história de uma outra carona que ele havia dado.
— Então, esses dias, coisa de uma semana atrás, eu tava subindo aqui por esse caminho e vi um cara correndo apressado, muita pressa, meio gordinho assim, sabe? Parei pra perguntar... ou, cê quer uma carona? Não é que o cara me olhou e deve ter pensado, putz, esse cara adivinhou!
Contando alegre como um lagarto ao sol. Eu ouvia sua história pelos cotovelos. Ele prosseguia através dos óculos.
— Pra onde cê tá indo, o cara me perguntou, tô saindo pela Carlos Luz. O cara disse que tava atrasado pro trabalho, que trabalhava na Gontijo. Falei pra ele que ia passar por lá. Cê tá brincando? Sério. Nossa, moço, cê pode me deixar lá? Claro. Não é que deixei o cara lá? Na porta do trabalho dele?
Deixou. E pelo visto como se tivesse nascido para tal.
— Quer dizer, o cara tava atrasado, não sei, tinha perdido um ônibus, o segundo ônibus tinha estragado, e ia subir essa avenidona toda aqui, correndo. Apareci na hora certa. No lugar certo. Acabou chegando antes do previsto e do imprevisto. Muito bom, muito bom.
E riu.
Contando alegre como um lagarto ao sol. Eu ouvia sua história pelos cotovelos. Ele prosseguia através dos óculos.
Tenho a impressão que este é mais verde ainda. |
Deixou. E pelo visto como se tivesse nascido para tal.
— Quer dizer, o cara tava atrasado, não sei, tinha perdido um ônibus, o segundo ônibus tinha estragado, e ia subir essa avenidona toda aqui, correndo. Apareci na hora certa. No lugar certo. Acabou chegando antes do previsto e do imprevisto. Muito bom, muito bom.
E riu.
Assim que ele apertou o ponto final da história com esse duplo "muito bom", as pedras deram o tchau, e agora eu poderia ouvir de forma clara outra contação.
Me divertia com o Elivelton, ele, porém, parecia não gostar do asfalto, não para contar histórias.
Do bandejão até a praça de serviços o silêncio instalou-se no carro como se os vidros não estivessem nas portas mas entre nós. Paramos na praça. Agradeci. Ele deu um tchau agradável.
Me divertia com o Elivelton, ele, porém, parecia não gostar do asfalto, não para contar histórias.
Do bandejão até a praça de serviços o silêncio instalou-se no carro como se os vidros não estivessem nas portas mas entre nós. Paramos na praça. Agradeci. Ele deu um tchau agradável.
Outra história não viria. A que ele me contou correspondia à história-síntese, que talvez conte a todos que junto dele atravesse o caminho das pedras.
*nome fictício
*nome fictício