Há alguns milhares de anos (na real? acho que um pouco mais de dois), os gregos entendiam que o amor erótico era um dos remédios contra a morte. Eles davam o nome de phármakon a esse comprimidinho. Esse amor era cantado nas líricas – poemas recitados ao som do instrumento lira.
Não é que se você trepasse como hamster sem rodinha enganaria a senhora das foices. Você só aplicaria uma dose de Alzheimer na mais velha conhecida nossa, e ela te deixaria para uma outra hora, quando lembrasse. Ou seja, você espantaria a indesejada por um tempo, aquela evangelhista ferrenha do fim dos dias, e finalmente viveria a plenitude, o prazer em essência.
Um amorzinho era um remédio (e acredito que ainda seja) daqueles, mas outras coisas entravam na lista que Dionísio esculpira numa pedra da marca Tilibra. Por exemplo... a celebração!
A celebração era a síntese, o próprio phármakon, o remédio por excelência, fosse amando, cantando, bebendo, recitando versos ao som de lira ou em linhas afiadas de um rap – acho que não naquela época. Lembramos que Hermes até tinha um flow invejado, passava uma mensagem que era uma beleza, sempre se baseando ali na métrica de Homero, mas rap, rap mesmo, ainda não.
Na década de 70 da nossa era o lema "Sexo, Drogas e Rock and Roll" ficou famoso. Na Grécia do século V antes de Cristo, o lema poderia ter sido "Afrodite, Dionísio e As Musas".
Era preciso celebrar o amor, o vinho, a arte, o sexo, a embriaguez, a beleza. Não apenas a virilidade e a guerra mereciam destaque, como faziam Aquiles e seus amigos postadores de bíceps dos stories – conhecidos como cantos da Ilíada. E, claro, um bíceps que eu gostaria de ter, porque esses bracinhos meus aqui são a própria lira.
Nos dias da era (ainda) cristã, as pessoas vão a bares, festas regadas ao melhor do álcool, assistem ao Campeonato Brasileiro. E tem a celebração para o time dos que preferem uma aguinha, assistir a um jogo de futebol com suquinho, rir com Friends, ler poemas. Ou cantar o amor e a sorte de estar vivo em letras de música, em filmes com a Drew Barrymore, em casos românticos clichês das novelas, ou uma volta de bicicleta para ver a cidade.
Como diria o nosso russo camarada, alcunhado por Dostinha, e Dostoiévski para os acadêmicos, a beleza salvará o mundo.
Para os líricos gregos, porém, era preciso "usar" de tudo com temperança, já que comprimidinhos traziam efeitos colaterais terríveis se usados com exageros, pois phármakon significava tanto a saúde como a doença.
Resumo da lírica: não se vivia apenas de vinho, sexo e arte. Não se vivia uma vida inteira dedicada aos banquetes. Mas sem banquete, sem celebração, não tinha por que viver.
Para lembrar de estar vivo pode ser a mistura do caos e da sanidade, a mesa com cerveja e com suco, com água e com vinho, o pote de tinta despejado num quadro branco como fazia Pollock – que era um beberrão daqueles.
Novamente, porém, não interessa: não é a embriaguez que faz a diferença, nem mesmo a sobriedade.
O que faz a diferença é o brinde.