Acabei de reler O Estrangeiro do Albert Camus. Foi a minha segunda vez. Coloquei como primeiro livro de um Clube de Leitura que faço com um dos meus alunos de literatura. Ele tem o desejo de ler clássicos. Então sugeri que escolheríamos 10 livros, sendo 5 dicas de cada um. Coloquei O Estrangeiro primeiro porque é um livro relativamente fácil de ler. Com linguagem ágil ao mesmo tempo que nada ingênua. E o início é arrematador, o que ajuda a pregar o olho até o final. Pois bem, li em três tardes, e dessa vez, achei melhor que a primeira leitura. Mas aconteceu algo, não achei tão absurdo a segunda parte após o crime, que seria “o castigo”. Dessa vez as sentenças e a relação de Meursault com a sua prisão me pareceu mais concreta e realista, talvez porque o mundo real e atual esteja cada vez mais absurdo.
Não senti dessa vez que ele não tenha se importado com ser preso, o que vi foi a aceitação dos fatos, da realidade – ele até cita que, após a morte do árabe, iniciaria-se a sua desgraça. Foi interessante perceber que a acusação parecia incriminá-lo, sobretudo pela pela indiferença pela morte de sua mãe no início da história. De qualquer maneira, a questão da liberdade como a aceitação do absurdo me pareceu clara e justificável, tanto é que Meursault, próximo do fim, passou a aceitar e a querer estar privado da liberdade e se sentia feliz – certo que isso parecia absurdo, e possivelmente depressivo. Mas Meursault citava a felicidade em alguns momentos. Isso é uma coisa que talvez eu só tenha percebido nesta leitura, Meursault se sente feliz esporadicamente, apesar de ter uma relação estéril com os momentos, mesmo junto dos amigos: quando se encontrava com Marie, quando tinha epifanias na cela. O “tanto faz” que percorre toda a narrativa me pareceu dessa vez uma displicência, sim, como antes, mas não uma ausência de sentimentos. Pelo menos na segunda parte do livro, Meursault, mesmo que desiludido, vê algumas graças, embora em lugares perigosos, para-baixo. Mais tarde pretendo elaborar um trabalho de comparação entre este livro, Crime e Castigo e Na Colônia Penal.
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